Saúde companheiros,
Faz alguns dias, em 17 de outubro, estava programada a apresentação de meu
livro (?A Traição da Foice e do Martelo?) em um centro social de Madri,
"La Gotera", sob a responsabilidade de um companheiro barcelonês que
viajou especificamente até Madri para este evento. Anexo mais abaixo o
comunicado deste Centro Social diante das agressões sofridas por aqueles
que foram a este local com a intenção expressa de tirar meu livro de
circulação, confiscando o material que estavam distribuindo vários
companheiros e depois ainda pelo cancelamento do lançamento do livro pela
ameaça que um grupo de pessoas fez expressamente contra os editores de meu
livro na Espanha.
Diante destes atos, digo a estes que procederam de dita forma, que eu
escrevi um livro, não lhes fui metralhar sua casa. Se o conteúdo do livro
lhes incomoda, simples e sinceramente, refutem-no. Por que quando se
acabam os argumentos começa a violência, como a que foi exercida contra os
assistentes em dito Centro Social. Além do mais, não inventei nem uma
vírgula do que escrevi: muito da informação contida no livro é tirada dos
mesmos livros marxistas: O Capital, O Manifesto do Partido Comunista, O
Anti-Duhring, As Teses de Abril, O Estado e a Revolução, e de muitos
jornais, periódicos marxistas espanhóis da época: Mundo Obrero, Treball
etc.
A censura que fizeram do livro, não ofende a mim, ofende a todos os que
lutam pela livre expressão das idéias. Se temos de censurar todo aquele
que não venha conosco, já podemos então censurar também vários (não um,
como o meu) livros marxistas onde se ataca, com os argumentos mais
escrotos ao anarquismo, como O ABC do Comunismo de Bukharin, onde falam
dos anarquistas como lixo (literalmente o diz Bukharin), O Manifesto do
Partido Comunista, onde colocam Proudhon como um "pequeno burguês", O
Estado e a Revolução, onde Lênin se afunda em ofensas, insultos e calúnias
aos anarquistas. Temos de proceder assim? Não, porque os métodos de
censura pertencem ao Estado e seus meios de comunicação manipulados por
conveniências.
O livro foi também editado no México, e aqui, na apresentação do livro
compareceram pessoas de várias tendências, inclusive marxistas, com as
quais foi realizado um amplo debate.
Quero dizer-lhes que há 11anos milito nas fileiras do anarquismo no
México, esclareço, para que não se pense que a análise do marxismo feita
no livro se faz desde uma postura reacionária. É feita desde uma ótica
libertária, anarquista, com uma firme recusa da conquista do poder
político e dos métodos eleitorais, que só tem levado o povo a novos
regimes autoritários, o que creio demonstrar suficientemente no livro.
Um livro como o que escrevi, não ?faz o jogo do capitalismo? porque deixo
bem claro que, como anarquistas, devemos não só combater o Estado
(protetor do capital), mas também a todos esses movimentos que têm como
finalidade a conquista do poder político. Em poucas palavras, que têm como
objetivo cimentar um novo governo, não importando o nome que este adote. O
que tem isto de mal? São os princípios anarquistas defendidos desde
sempre. Mas é consensual que aqueles que sintam que seus avós, ou em
último caso, suas idéias, tenham cometido as piores barbaridades contra o
povo, aspirem a tratar de ocultar a história, de negá-la? tal como fazem
os meios de comunicação à serviço do Estado.
Vocês leram o livro? Se o fizeram, com sua atitude não fazem mais que
confirmar a idéia ali exposta: a análise em vocês foi eliminada, se trata
de um dogma, de uma igreja, pela qual não tem dúvidas em usar a violência
contra o próprio povo (uma garota com pontos na cabeça, outro dois com os
olhos roxos, vários contundidos, lábios partidos? do próprio povo, do povo
trabalhador e antifascista pelo que dizem vocês que lutam); suas idéias,
como digo no livro confirmam os feitos, não fazem mais que reproduzir os
mesmos caminhos que os piores regimes autoritários. A Igreja marchava em
outros tempos com a Bíblia em uma mão e a espada na outra; vocês marcham
igualmente: com O Manifesto do Partido Comunista em uma mão e os bastões
na outra. Procedem vocês igualmente como o Santo Oficio, que queimava
livros para impedir que fossem questionados. Por acaso a impotência em
poder refutar o livro lhes leva a esses caminhos violentos? Pois então...
vocês mesmos, senhores.
Eu fiz uma análise de uma ideologia, se não estão de acordo com ela,
porque não procedem a refutar o livro, antes de recorrer à censura e a
métodos violentos? Porque não foram à apresentação do livro e COM
ARGUMENTOS, demonstrarem o que pensam? Ah! Porque é muito mais fácil atuar
com violência que utilizar o cérebro.
No século XIX, seu mestre Karl Marx fez até o impossível para acabar com
os anarquistas (leiam em meu livro as provas disso) e com Bakunin, em
especial: não fez mais do que reforçar no povo suas idéias
anti-estatistas, inimigas de todo governo. Com os atos de vandalismo que
cometeram contra os companheiros presentes ao Centro Social Okupado La
Gotera para impedir que se difundisse o livro, não fizeram mais que
?tornar ferozes anarquistas radicais a mais de cem pessoas? (como dizia um
comentário de um site de internet referente a estes fatos), não fizeram
mais que dar toda a razão ao livro quando digo que vocês são uns
dogmáticos, capazes de atacar aos próprios revolucionários, ao próprio
povo, com a missão de salvar o dogma marxista, justo como aconteceu na
Rússia, na Espanha e em vários locais do mundo.
Quero mostrar desde estas linhas minha mais sincera solidariedade para com
o CSO La Gotera pelos fatos ocorridos no passado dia17 de outubro. Assim
como a todos os companheiros que tiveram que passar por este penoso ato,
sobretudo aos feridos por estes herdeiros da Inquisição. Se de algo
servir, estou a inteira disposição dos companheiros do CSO La Gotera e
demais companheiros para o que possam requerer de mim.
Por último, recebam todos vocês uma fraternal saudação desde este lado do
charco (México), de um companheiro com o qual podem contar todos vocês.
Saúde companheiros...
Fraternalmente...
Erick Benítez Martínez
Sobre as agressões sofridas em 17 de outubro no CSO La Gotera
No passado sábado, 17 de outubro, se apresentaram em torno de umas 10
pessoas de diferentes coletivos de caráter antifascista, irrompendo
durante o transcurso de uma palestra, fazendo uma revista de todo o
material das distribuidoras buscando o livro intitulado ?A Traição da
Foice e do Martelo? com atitude censora e autoritária, e apreendendo o
material para que este não fosse vendido (tudo isto ocorreu após uma etapa
prévia em que algumas pessoas chegaram a assembléia do CSO La Gotera,
avisando das possíveis conseqüências da apresentação do livro e com a
clara ameaça física ao coletivo editor deste, ante a qual a assembléia
decidiu suspender dita apresentação).
Diante da queixa de algumas pessoas ali presentes, começaram as ameaças
físicas contra aqueles que se encontravam ali e, especialmente, ao
coletivo editor do livro e todas aquelas distribuidoras que o vendem. Tudo
isto desembocou em uma série de agressões físicas e insultos depreciativos
contra aqueles que questionavam sua atitude autoritária, dando como
resultado várias pessoas feridas, as quais haviam ido às jornadas como
meros espectadores.
Diversas pessoas que estavam ali presentes foram testemunhas da atitude
repressora e prepotente desta gente, e decidimos reunir-nos diante da
necessidade de enfrentar a este tipo de atitudes. Nos posicionamos contra
a censura, especialmente dentro de nossos espaços. Ontem era uma canção,
hoje é um livro, amanhã pode ser uma camiseta ou um adesivo. A ameaça a
que estão expostas as pessoas do coletivo editor evidencia que quem se
atreva a fazer uma crítica a certas ideologias ou simplesmente pretendam
gerar debates, estão pondo em perigo sua integridade física. Este fato nos
parece intolerável dentro de um centro e um movimento que pretende,
precisamente, lutar contra este tipo de imposição e coações contra a
liberdade de pensamento.
Ante isto pedimos a solidariedade e o apoio a esta rejeição, seja por
parte dos centros sociais, coletivos, distribuidoras, editoras,
individualidades, grupos de música... não só de Madri, senão de todo o
Estado e inclusive fora deste, para por um ponto final a este tipo de
prática, não só condenando-lhes, senão atuando conseqüentemente com ele,
não dando nenhum tipo de cobertura a este tipo de gente e a aqueles que
compreendem, permitem e apóiam para que isto ocorra.
Alem disso pedimos o posicionamento claro e sem ambigüidades dos coletivos
aos que pertencem os agressores que no sábado, dia 17, foram a La Gotera,
para saber se estes respaldam e dão cobertura a estas formas de atuação.
Quem repudie os fatos sucedidos e, sobretudo, a atitude e imposição
autoritária por parte de uns poucos, esteja convidado a assinar este
manifesto ou expressar sua discordância de uma forma visível.
Basta de censuras!
Contra toda autoridade!
?Durante muito tempo acreditastes na existência dos tiranos.E bem, não há
tiranos, senão escravos. Porque ninguém manda ali onde ninguém obedece.?
Grupo Anarquista Pensamento Ingovernável
Crônica dos eventos no CSO La Gotera
Em Madri, na quarta-feira, dia 14, um grupo de pessoas foi a assembléia do
CSO La Gotera para protestar contra a apresentação do livro ?A Traição da
Foice e do Martelo? alegando que neste se insultava gratuitamente as
idéias comunistas, afirmando que se a palestra fosse realizada haveriam
pessoas que invadiriam o centro social com o objetivo de agredir ao
palestrante.
Diante disto e da resposta negativa por parte destas pessoas em assistir
ao debate para dar sua opinião sobre o assunto, a assembléia do centro
social decidiu anular a palestra.
Não contentes com isto, na noite de sexta-feira, dia 16, um grupo de umas
cinco pessoas, entraram no centro social e ficaram andando pelas
distribuidoras que nesse momento permaneciam no centro. Ao não encontrarem
o livro, e depois de permanecerem durante um longo tempo no local onde se
encontrava o suposto palestrante, se foram. Na noite de sábado, dia 17,
voltaram novamente a aparecer, desta vez com mais ?respaldo?. Umas quinze
pessoas andavam pelo centro observando de maneira desafiante, uma por uma,
todas as distribuidoras colocadas ao longo do corredor.
Quando encontraram o livro, o apanharam e o tentaram levar, algumas
pessoas reagiram dizendo que ao menos o pagassem, e então começaram a
gritar ?de quem é esta merda de livro?!?, seguido de insultos e ameaças
dirigidos as pessoas presentes, em especial ao coletivo editor do livro
citado e de todas aquelas distribuidoras que o vendem.
Depois da tentativa infrutífera de acalmar a situação, o grupo de
indivíduos atirou um dos livros na cara de um companheiro que manifestou
sua discordância diante de ditas ameaças. Outro dos livros foi também
atirado nas pessoas que até o momento se mantinham a margem do conflito,
agredindo na cara a um deles. Ante isto, algumas pessoas reagiram em
defesa dos implicados, ao que o grupo de indivíduos respondeu com socos,
insultos e ameaças.
Tentando novamente se acalmar a situação, se pediu aos indivíduos que
abandonassem o centro. E no exterior se deu novamente uma situação de
tensão, onde ?o grupo de indivíduos? se dedicou a provocar algumas das
pessoas ali presentes, faltando-lhes com o respeito, com um tom de abuso
contínuo. Ante os comentários de alguns de nossos companheiros que
criticavam a atitude autoritária com a que haviam ?assaltado? o Centro
Social, voltaram a responder com agressões. Ao menos 8 companheiros foram
agredidos no transcurso do conflito, inclusive uma companheira que tentou
separar aos implicados, teve que ir ao hospital com um corte na
sobrancelha, ocasionada por um soco recebido por parte dos agressores.
Faz tempo que algo assim não acontecia em um de nossos espaços,
supostamente liberados de censuras e atitudes autoritárias. Por isso nós,
uns numerosos grupos de pessoas ali presentes, decidimos publicar o que
ocorreu, da forma mais objetiva possível, para que todo mundo possa ter
conhecimento em primeira mão do ocorrido. Deixar claro que neste texto não
se tenta criminalizar uma ideologia concreta, senão rejeitar as atitudes
autoritárias daquelas pessoas, que seja onde quer que seja, utilizam de
sua ?superioridade física? por cima de qualquer argumento ou raciocínio
exposto. Nada mais que dizer, os fatos falam por si só.
Ajuntamos a informação do livro para quem lhe possa interessar.
Assinam os companheiro e companheiras ali presentes e afetados e afetadas
pelos fatos
Livro: ?A Traição da Foice e do Martelo?
Erick Benítez Martínez
Assim como é interessante para a luta libertária cultivar-se nos valores
que tem defendido e defendem anarquistas ao longo de todos estes anos de
infatigável luta, também é importante conhecer ideologias, autores e
pensadores que se opõe ou que diferem dos valores pessoais, pois a
complacência não deve nos bastar, com análises que não são propriamente
libertárias, se adquirem conhecimentos e raciocínios que nos podem
enriquecer ideologicamente.
O presente livro não pretende ser um escrito filosófico nem puramente
ideológico, senão, mas especificamente, uma análise do marxismo, de
realidades do ponto de vista militante e ativista. Tão pouco quer explicar
o que é o anarquismo, pois para isso já há outros autores que o têm
tentado definir e analisar desde sua perspectiva pessoal.
Assim o presente livro pretende fazer desaparecer mitos e desvendar o
oportunismo e a inexistência de razão daqueles que, desprestigiando a
idéia do verdadeiro comunismo, tem utilizado esta palavra e a tem
tergiversado até torná-la desprestigiada, pode deixar pontos de análises
abertas, mas aí fica escrita uma parte da análise que o autor quis dar
mais importância.
Nunca devemos esquecer tanta traição e tanta desfaçatez, não podemos nunca
deixar respirar o autoritarismo, vestido da cor que se vista, porque a
unidade deve ser com quem a mereça.
El Grillo Libertario - Sentimiento Kontra el Poder - 2009
430 págs. Rústica 19x12 cm
ISBN 978-84-612-9370-4
Podes baixá-lo aqui:
http://www.archive.org/download/LaTraicionDeLaHozYElMartillo/LaTraicionDeLaHozYElMartillo.pdf
Centro Social Okupado La Gotera: http://csoalagotera.nuevaradio.org/
Tradução > Juvei
agência de notícias anarquistas-ana