Se a queda do muro de Berlim constituiu a 9 de Novembro de 1989, simbolicamente e na prática, o fim do bloco soviético e de mais de 70 anos de terror em nome do “socialismo” e do “comunismo” autoritários, como tinha sido antecipado por Bakunin (1), já há muitos anos que os regimes de tipo marxista-leninista, ditatoriais e de capitalismo de estado, eram contestados por largos estratos da população nos mais diversos países do chamado “Pacto de Varsóvia”.
Sem considerar os levantamentos protagonizados por grandes movimentos de trabalhadores logo no início da ditadura dita soviética, como Kronstadt ou a luta dos camponeses ucranianos, com Makhno, a revolução Húngara, em 1956, com a formação de conselhos operários (2) e o levantamento popular nalgumas das principais cidades do país, é um marco importante na história da dissidência e do combate pela liberdade desses povos.
A revolta teve início a 23 de Outubro (faz agora 60 anos) com uma manifestação de estudantes que atraiu milhares de jovens e que desfilou do centro de Budapeste até ao Parlamento. Exigiam liberdade, o fim da ocupação soviética e a implantação do “socialismo verdadeiro”. Houve confrontos com a polícia que rapidamente se espalharam por toda a cidade e por todo o país.
No dia seguinte, oficiais e soldados juntaram-se aos estudantes nas ruas da capital. A estátua de Stalin, no centro da cidade, foi derrubada por manifestantes que entoavam, “russos, voltem para casa”.
A 25 de Outubro, tanques soviéticos, sedeados na capital, dispararam contra manifestantes na Praça do Parlamento. Chocado com tais acontecimentos, o comité central do partido forçou a renúncia de Gerő e substituiu-o por Imre Nagy (3) na chefia do governo, colocando-se, assim, ao lado das reivindicações populares.
Nagy vai à radio e anuncia a futura instalação das liberdades, como seja o multipartidarismo, a extinção da polícia política, a melhoria radical das condições de vida dos trabalhadores e a busca de um tipo de socialismo “condizente com as características nacionais da Hungria”.
A 28 de Outubro, o primeiro-ministro Nagy vê as suas opções serem aceites por todos os órgãos do Partido Comunista. Os populares desarmam a polícia política (4), tendo o poder, a nível local, sido assumido por conselhos operários formados por trabalhadores em substituição dos antigos burocratas do Partido Comunista (cujo nome era Partido dos Trabalhadores Húngaros)
No final do mês de Outubro, os confrontos quase tinham cessado e respirava-se um ambiente de retorno à normalidade, quando as tropas soviéticas entraram na Hungria. A 4 de Novembro um numeroso exército enviado por Moscovo invadiu Budapeste (que foi cercada por um milhar de tanques) e outras regiões do país. A resistência húngara continuou até 10 de Novembro. Mais de 2.500 soldados húngaros e cerca de 700 soldados soviéticos foram mortos nos combates, tendo 200.000 húngaros fugido das suas casas e passado à condição de refugiados.
Seguiram-se prisões em massa e uma brutal repressão por parte do novo governo colocado no poder pelas forças de ocupação soviética que rapidamente, em poucos meses, acabou com qualquer foco de oposição.
Hoje a Hungria vive também tempos conturbados, com a extrema-direita e o fascismo em ascensão, depois da “Primavera” que se seguiu à queda do bloco soviético em finais dos anos 80. É necessária uma nova revolução, como a de 1956, que contenha em si os princípios da liberdade política e da igualdade económica. Sem isso qualquer projecto social será sempre redutor e conduzirá, num ou noutro caso, ao totalitarismo e à ditadura, à injustiça e à escravidão.
Mário C.
(1) “Liberdade sem socialismo é privilégio, injustiça; socialismo sem liberdade é escravidão e brutalidade.” – Bakunin