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LIBERDADE E BEM ESTAR

LIBERDADE E BEM ESTAR

Évora 1977 :"Apoio Mútuo" Nº 02

29.11.17, uon

https://1969revolucaoressaca.blogspot.pt/2017/01/1977-01-00-apoio-mutuo-n-02.html#more

editorial

A JUDICIÁRIA SUBSTITUÍ A PIDE!

 I

Começaram há pouco tempo os julgamentos dos famigerados agentes da pide. Julgamentos esses, que melhor se poderiam designar por represõezinhas... dada a bondade de trato dos respectivos tribunais militares. Aliás outra coisa não seria de esperar, já que nas operações militares nas colónias, a pide sempre colaborou com as forças armadas, antes e depois do 25 de Abril (lembremo-nos da Polícia de Informação Militar). Que atitude se esperaria que tomassem perante os seus antigos colaboradores?

Os protestos não param de chover perante esta escandaleira.

Desde os grupos da extrema-esquerda até à própria Assembleia da Republica e Governo, a indignação parece geral e lá se vão aprovando moções, recomendações, instruções, posições, legislações.

Logo depois do 25 de Abril, quando tiveram margem de manobra suficiente para sanearem os tribunais (todos eles afeitos ao regime fascista), ficaram-se por actuações simbólicas...mas "cheias de significado"! Salgado Zenha, xuxialista de grande quila­te e que foi responsável pela coutada da justiça durante bastante tempo, protesta agora balofamente contra um escândalo de que é co-responsável. Enfim, os homens do Estado vão-se sustentando uns aos outros, e o Estado conquista-os a todos.

II

Enquanto os homens do novo poder vão protestando contra as actividades de polícia dos homens do antigo poder, a nova polícia, seguindo as pisadas da antiga, vai estendendo assustadoramente os seus tentáculos.

Na verdade, a polícia judiciária civil e militar, em estreita colaboração, vão refazendo os antigos fi­cheiros, procedendo a interrogatórios arbitrários, efectuando buscas a casas, desenvolvendo actividades de vigia em ruas e cafés num frenesim perfeitamente comparável a antiga-pide contra quem tanta tinta tem gasto. A lógica do Estado é implacável.

As verbas para gastos policiais atingem somas astronómicas (a PJM tem, para já, 100 000 contos), abrem-se delegações nas principais cidades do país, reestruturam-se as suas actividades criando-seinclusivamente uma "escola de polícia" (quem não se recorda, ainda, da escola da pi­de em Sete-Rios, Lisboa?), melhoram-se os laboratórios, refinam-se os métodos com os ensinamentos legados pela famigerada pide, acrescidos com novos conhecimentos importados (e, para esta "ciência", não se conhecem restrições, nem austeridade!) de outros países de tecnologia repressiva avançada...

Em Évora, de há uns tempos a esta parte, os novos pupilos da segurança do Estado ensaiam os seus conhecimentos:

-  fazem emboscadas, de noite, a pessoas que regressam a casa, quer inquirindo ameaçadoramente de que presumível reunião vieram, quer ordenando o despejo de todos os seus bolsos;

- desenvolvem longos e insistentes interrogatórios, mesmo sem convocatórias, utilizando o hábito antigo do polícia "bom" e do polícia "mau", assumindo o polícia "bom" a figura do capitão de Abril e o "mau" a do sargento tarimbeiro (l);

- vigiam descaradamente os principais cafés da cidade, suspeitando-se que a sua "dedicação" se tenha estendido às escutas telefónicas.

Devido às ilusões espalhadas e repisadas por toda a chamada esquerda sobre os "progressistas" e "revolucionários" elementos das forças armadas eis a polícia com o seu trabalho facilitado ao colocar perante as pessoas um militar "anti-fascista" ou um polícia "socialista".

O papel das polícias é o mesmo, aqui ou na China. A vigarice da polícia popular ou socialista, assim como a charlatanice dos Estados "socialistas ou "de todo o povo", não passam de subterfúgios para iludir os oprimidos e perpetuar a dominação e a exploração com roupagens reformadas.

III

Contra a fantochada dos julgamentos dos pides, nós, anarquistas, protestamos também! Não no sentido da pide ter sido uma polícia execrável, violenta e não democrática. Não no sentido, também, de exigir aos tribunais maior dureza. Mas sim porque sempre protestámos e combatemos todos as polícias do mundo que, juntamente com os exércitos (esse gado patrioteiro), foram e são os pilares do Estado.

Combatemos a polícia alemã que, às ordens dos sociais-democratas (a parentes próximos dos socialistas portugueses), constroem prisões especiais para os anarquistas, assassinando-os e destruindo-os lentamente como aconteceu no caso do grupo Baader-Meinhof.

Combatemos a polícia socialista soviética que envia para campos de concentração, ou hospitais psiquiátricos, todos os que se manifestam e se revoltam contra as condições totalitárias do Estado-patrão russo.

Combatemos a polícia popular chinesa, que reprime duramente greves de operários e cria "campos de trabalho", que são verdadeiros campos de concentração, para os chamados agitadores que não amouxam as directrizes "justas" do omnipotente Partido/Estado.

Combatemos abertamente as polícias judiciárias, públicas ou de partidos, miseráveis suportes desta sociedade, que somente visam a repressão do individuo.

ABAIXO O ESTADO, A POLÍCIA E O CAPITAL!

VIVA O COMUNISMO LIBERTÁRIO!

 

(1) - Nesta actividade tem-se destacado o furão capitão Antunes que está autorizado, a título excepcional, a caçar também durante o "defeso"!